sexta-feira, abril 13

os alunos portugueses

Os alunos portugueses agora, e sempre, desde que me lembro (nasci em 1979, portanto, nos últimos 20 anos pelo menos!), faltam às aulas para estar com os amigos e para fazer disparates. É natural e saudável que assim seja. Faltem agora porque mais tarde não poderão faltar aos empregos para os mesmos propósitos. Agora, tornar isso lícito, ou passível de ser desculpado, senhores! Se Salazar fosse vivo revolvia-se na cadeira e era até capaz de cair!
Os putos, os jovens, devem ser responsabilizados pelo que fazem. Não desculpabilizados. Eles sabem o que fazem. Dou-vos um exemplo, o meu irmão, que tem tudo menos de santo, chumbou no 8º ano por faltas. Só lhe fez bem. Imagino o que seria com 14 anos ser tratado como uma criança de 6 que parte um prato. Não me parece bem. A educação não é isto. A educação pressupõe responsabilização. Os adolescentes não podem ser eternamente adolescentes. E os pais, esses, cada vez mais têm dificuldade em controlar um teenager que passa o dia inteiro por sua conta e risco. Resta a escola. Qual o seu papel? Simples: demonstrar a importância de trabalhar para um futuro. Sabem a que aulas eu faltava? Nenhuma, ou quase nenhuma. Sabem porquê? Porque estive sempre orientada para uma licenciatura e compreendia a importância das aulas, da avaliação contínua, da educação com qualidade. Claro que fiz os meus disparates, inclusivé tive uma ida ao Conselho Directivo e uma repreensão escrita no 7º ano. Faz parte. Mas em casa e na escola apostavam em mim. Sobretudo no Secundário, onde tive uma professora de Filosofia (disciplina que gostava apenas e só por ela) que nos preparou (a mim e a mais 3 colegas) para de facto seguirmos a chamada «via de ensino». Nunca a esqueci. Teria 20 e poucos anos, muito empenho e amor à profissão. Punha muitos professores aspirantes a «titulares» num chinelo. E sabem o que ela conseguiu? Levar-nos às 4 à Universidade. Simples e eficaz: trabalho de equipa, nós e ela. Claro que isto obrigou a Professora a fazer escolhas, puxar por uns, não perder tempo com outros que nunca entrariam no jogo, incentivar a competição, ficar «amuada» quando nós tirávamos menos de 16/17 nos testes. Mas conseguiu. Mas isto nunca significou perder o controlo da turma, o controlo daqueles que ainda que não conseguissem positivas nos testes (porque simplesmente não estudavam) e puxar-lhes repetidamente as orelhas. Nunca os abandonou. Simplesmente doseava a sua exigência aos alunos que tinha. E conhecia-nos muito bem! Porque vos conto isto? Porque, com 14 anos decidi que iria deixar as escolas de bairro que praticavam a chamada balda colectiva, e fui para uma escola competitiva (hoje não existe porque era de madeira, provisória, era a escola secundária da Cidade Universitária). Nesta escola havia dois tipos de alunos: os baldas e aqueles que tinha um sonho. Ambos eram responsabilizados pela sua conduta. E davamo-nos todos bem.
Ora, a Sra. Ministra agora quer alargar a balda colectiva à possibilidade de alunos que não comparecem às aulas passarem. Já temos alunos no ensino primário e básico que «não podem» chumbar, mesmo que não atinjam os objectivos, porque os traumatiza. Já temos alunos no ensino secundário a passar sem saber em que ano se deu o 25 de Abril e o que se comemora no 5 de Outubro, e que frequentaram o mínimo de aulas admitido (2/3 acho eu), e agora vamos ter alunos que não sentaram o rabo nas cadeiras da escola a passar para «evitar o abandono escolar». Oh Sra. Ministra, para combater os números das estatísticas há que responsabilizar a escola, os professores, os auxiliares, para um controlo efectivo das condutas dos alunos, não evitar o chumbo a todo o custo. Assim terá melhores percentagens de alunos com o ensino obrigatório concluído, mas terá cada vez mais ignorantes nos quadros superiores do país, a frequentarem universidades sem saberem ler e escrever (como eu tive, na faculdade de direito de Lisboa, colegas que não sabiam escrever uma frase sem erros ortográficos e bem pontuada). Assim não vamos lá Sra. Ministra...

3 comentários:

me,myself & I disse...

...
Subscrevo e assino na integra.

Rita Mendes

Bernardo Santa Clara Gomes disse...

Aqui o menino chumbou o 8ºAno por andar na "barracada" e ainda se deu ao luxo de o passar com duas negas... hehe!
Por outro lado, quando chumbou o 8ºAno teve de ir pedir desculpa e prometer que se ia portar bem no ano seguinte para não ser expluso.
Sabem onde? Na Escola Salesiana do Funchal. Nunca me senti tão pequeno. Mas aprendi que as minhas acções tinham consequências e que se reflectiam unica e exlcusivamente na minha vida.
Foi a unica vez que a minha mãe foi à escola. A 1ª e unica. Prometi a mim mesmo.
E cumpri!

Anónimo disse...

Vale mais este post do que centenas de mestrados e doutoramentos em Ciências (!?) da Educação! Parabéns pela lucidez e pelo acto de cidadania que constitui denunciar tanta estupidez! Como professor de Filosofia, regozijo-me pelo reconhecimento que a Texuga faz de uma minha colega!
Cumprimentos e boas vacances! :)
ALM