quinta-feira, maio 10

Entrevistas de emprego - um mundo desolador

É com profundo desânimo que escrevo estas linhas. Não vos sei explicar por palavras o que sinto relativamente ao mundo da advocacia. Ontem, fruto de um conhecimento pessoal com uma companheira de mestrado, fui a uma entrevista numa grande sociedade de advogados de Lisboa. A entrevista começa com a frase: "quem é que me entregou o seu curriculum? desculpe lá, é que eu não me lembro!", passou depois à interrogação "sabe quem eu sou aqui dentro?", ao que eu respondi "não!", daí descambou para perguntas do género: "diga-me em que locais já esteve... em inglês." Pronto, daí ao descalabro foi um segundo. Descontrolei-me, deixei de pensar, não consegui articular uma única frase em inglês, e expliquei-lhe que compreendo inglês mas não o falo, porque nunca tive de o fazer, e portanto não sou fluente. Ele responde "então o que está aqui a fazer?" Eu respondo "pois, provavelmente nada!" Foi surreal. Foi desgastante, desmoralizante, e sobretudo chegou à humilhação. Não porque o Sr. me tenha enxovalhado, mas porque fruto da minha aparente calma e confiança em mim e no meu passado, o Sr. assumiu que tinha de me destronar da minha pose, soltar a minha agressividade e a minha defesa natural, dizendo coisas como "nunca tive cá ninguém com um inglês como o seu", ou "nunca tive uma entrevista como esta, em 11 anos de entrevistas" mas depois, quando eu demonstrava que estava psicologicamente pronta para me ir embora, retorquia dizendo "mas diga-me, porque é que o escritório deve ficar consigo", ou "descreva-se", demonstrando uma inusitada curiosidade no espécime que tinha à frente. Senti-me acossada, qual rato branco de laboratório, sem ter para onde fugir. Foi profundamente mau. No fim de quase 60 minutos de agonia, o senhor faz a pergunta mais estranha (no contexto do que se passou antes), "para contencioso não me serve porque não tem disponibilidade imediata, porque não sabe inglês e porque claramente tem outros objectivos que não este (por causa da área do mestrado)", mas quer que fiquemos com o seu curriculum na nossa base de dados para outras áreas e outras vagas que possam existir no futuro?" A minha vontade foi dizer: não, queime-o! Mas lá me aguentei e com o meu sorriso trinta-e-três lá disse "claro que sim!".
Foi isto meus amigos, uma humilhação, mais uma. Ir a entrevistas a escritórios de advogados é terrivelmente embaraçoso e stressante. Corre-me sempre mal. Porquê? Porque os senhores que me entrevistam estão no seu pedestal e não percebem que o que têm à frente é uma pessoa com experiência no mercado de trabalho que reúne duas características essenciais: carácter e ambição. Aliado ao facto de que não trabalho de borla, porque na minha terra isso é escravatura e porque tenho contas para pagar, sou liminarmente descartada da bolsa de emprego. Porquê? Porque o que é procurado é ingenuidade, inexperiência e submissão.

2 comentários:

Amaryllis disse...

Texuguita, a advocacia numa grande firma de advogados não é o teu estilo. És uma pessoa terra-a-terra e apesar do nariz empinado és simples. Não pertences a esse mundo. A tua vocação está no serviço público, no verdadeiro sentido do termo. Vejo-te a resolver questões relacionadas com as nacionalidades e os poderes supre-nacionais, ou a defenderes os direitos de todos nós à luz desta globalização. Faz-te voluntária numa agência internacional e junta os contactos. Parte à aventura e leva o teu homem.

Anónimo disse...

Olá

Eu sou Psicologo. Gosto muito de Psicologia, mas como também gosto de Informática e os empregos em Psicologia são escassos, ando a fazer informática... Ainda só estou no 3º ano, de Informática...

Ontem fui à minha primeira entrevista nesta área, para ver se conseguia começar a ganhar experiência: pusseram-me a fazer exercícios, simples e que eu já tinha feito em Exames, mas estava mentalmente pouco preparado para isso: pensava que ia apenas "conversar"... INformática é a minha segunda lic e trabalho na área da Psicologia... na noite anterior tinha estado até às 2as da manhã a preparar um artigo, que vou apresentar num congresso de Psicologia...

Enfim...

Fiquei tão triste...

A vida é assim...

Mas sinto-me com vontade de lutar, e ainda ei-de conseguir trabalhar em Informática...

Coragem e um abraço