sexta-feira, novembro 17

Nada para fazer

Nada para fazer nesta sexta-feira de função pública. Dou por mim a navegar sem rumo, incessantemente, e dei conta de que «África do Sul legaliza casamentos homossexuais» (notícia de dia 14). Inacreditável. Porquê? Primeiro porque sendo o primeiro país africano a fazê-lo tal não seja noticiado no nosso País, nós, os colonizadores! Segundo porque o que nós temos se resume à Lei 7/2001, que diz «A presente lei regula a situação jurídica de duas pessoas, independentemente do sexo, que vivam em união de facto há mais de dois anos», isto é, resume-se a estender alguns efeitos patrimoniais aos "unidos" ou às "unidas". As pessoas que se apaixonam por pessoas que têm o mesmo F ou M nos documentos não são diferentes das outras. Querem, à semelhança de todos nós ser tratados com respeito. Ora, num país desenvolvido, que pertence à União Europeia, não devia começar a falar-se neste assunto um bocadinho mais a sério? Eu não digo que amanhã seja aprovada uma alteração ao artigo do Código Civil que diz que «o casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente» para a eliminação das palavras sexo diferente e pronto, a questão social está resolvida! O direito segue a sociedade. A política reflete a sociedade. Se a sociedade não discute sequer este assunto então nada vai mudar. O problema é que jovens adultos, muitos licenciados, com um nível de cultura acima da geração anterior, são infelizes porque não podem sequer imaginar abraçar-se na rua como um marido e uma mulher. Não podem assumir-se como um casal perante a lei. Não podem fazer uma boda de casamento. Para mim, e quem me conhece sabe, não tem qualquer importância a instituição casamento. Mas para milhares terá. Oh geração rasca, que vamos fazer? Obrigar os nossos pais, aqueles que ainda mandam actualmente, a olhar para quem vem a seguir e explicar que a liberdade passa pela despenalização da orientação sexual? Se eles muitas vezes não assumem os filhos, quanto mais os vizinhos ou os filhos dos amigos? Mas o que me espanta mesmo é não se falar. A minha experiência diz-me que a validade de uma relação não se mede por longitudes ou aceitações externas. Mede-se pela simbiose, pelo sentimento. Que me interessa a mim que o namorado do meu amigo se chame João ou Joana? É-me indiferente. Só quero que o meu amigo seja feliz. Não pode ter filhos? Adopta um cão. Apadrinha uma criança que precise de ajuda. Torna-se família de acolhimento de alguém e ajuda-o a crescer, isso é ser pai. Não é ter. Mas não se fala disto em Portugal. Porquê? Será que a África do Sul tem mais «cabeças pensantes» do que nós? O que é que interessa à manutenção da paz social ou da ordem moral o facto de duas pessoas do mesmo sexo celebrarem um contrato que só a elas diz respeito? É que na realidade o sexo faz-se na mesma, as relações existem na mesma. Não podem é ser completas. Têm de ser «no escurinho do cinema» como noutros tempos. Vamos lá a pensar sobre isto um bocadinho e a fazer alguma pressão para alterar um Código Civil de 1966 (antes do 25 de Abril, tão a ver?)...

PS: A tal lei de África do Sul foi aprovada com 230 votos sim e 41 não... dá que pensar não?

1 comentário:

Bernardo Santa Clara Gomes disse...

Concordo plenamente contigo, mas com duas condições:
1-Que assumam de uma vez por todas que nao é uma situação normal, mas uma com a qual temos que viver.
2-Não queiram ter mais direitos só porque têm o mesmo M ou F no BI.
E a partir daqui temos bases paraa viver todos em conjunto!