segunda-feira, março 5

Desalento

A minha vida dava um filme... sim talvez. Mas não pelos melhores motivos. Dizem que até agora tenho tido sorte. Acham? Não me parece. A única coisa que eu queria era ter por onde começar. Mas pelos vistos isso já é pedir muito. Sei que só eu tenho responsabilidade nas minhas escolhas. Sei que a minha sorte ou azar se deve na origem a mim própria. Mas o que é facto é que pareço um polvo, a tentar chegar a todo o lado, e sem conseguir agarrar nada. Estão a ver aquela sensação da areia a fugir entre os dedos? É mais ou menos isso. Tudo bem. Até agora bem ou mal tenho onde estar. Mas reparem no insólito, numa entrevista para uma grande sociedade de advogados, que recruta 3 e 4 estagiários por ano porque precisa de mão-de-obra, porque tem muito trabalho, dizem-me «o mestrado é um problema, porque vai roubar-lhe 6 horas semanais de dedicação ao escritório». A motivação para estudar é um problema numa profissão 100% intelectual e cada vez mais tecnicista? É surreal. Demonstra a cultura que se vive nos «empregadores» de hoje em dia. O importante é cumprir fisicamente 8h no local de trabalho. O importante não é o que se produz ou a preparação que nós próprios pagamos para ter, o importante é saber que por 600€ (brutos!) tenho um pau-para-toda-a-obra, que se vai dedicar por completo a realizar as tarefas repetitivas e esvaziadas de intelecto, sem pedir nada em troca a não ser a luz ao fundo do tunel da permanência no escritório, como associado. Ainda bem que não me quiseram. Não os quero também. São frios, calculistas e maus pagadores.

3 comentários:

Zé O Branco disse...

A tua vida dava um Filme...
A nossa vida dava um Filme... e com jeitinho seria um Filme indiano.
Gravado em BollyWood.

Bernardo Santa Clara Gomes disse...

Olha, desde que não seja de terror .. rsrs!
Mesmo indiano, é de qualidade, vo vosso filme!

Anónimo disse...

São as chamadas virtudes do capitalismo e da mentalidade neoliberal: "profissão" é um eufemismo que disfarça o significado actual de "novas formas de escravatura"! Não se prospera impunemente, em Portugal como no mundo... O "outro" é um pequeno cifrão na contabilidade do patrão! Já o ministro Pinho teceu laudas aos baixos salários dos tristes portugueses...
Cumprimentos e ânimo,
ALM