sexta-feira, outubro 12

Talvez mais tarde

A sensação que tenho é a de que nada chega. Nada chega ao Homem para que este seja feliz. A vida é uma luta, constante, dificil, muitas vezes nada gratificante. Nos chamados países desenvolvidos vivemos o dia com uma rotina dificil, cheia de obstáculos, que nos levam ao egoísmo extremo de não estendermos a mão, mesmo que vejamos cair. Não quero ser assim. Acredito na vida fora daqui. Acredito que um dia vou sair sem olhar para trás. Acredito no sol vermelho pendurado num horizonte sem limite. Acredito na simplicidade de um cão enroscado a meus pés, numa tarde de frio. Acredito nisso e no entanto ainda aqui estou. Sinto que a vida foi puta comigo. Muito mesmo. Não era nada disto. Nada! Quando sonhava com a vida após os 30 sonhava com a certeza de que teria a certeza. E agora? Não tenho a certeza. Não tenho dia de amanhã. Sinto que passei ao lado de tudo. Todos dizem que sou louca. Que devia era casar e ter filhos. Mas não suporto a ideia de não lhes dar um futuro, não suporto a ideia de que venham a ter uma puta de vida como a minha. Vivo bem? Vivo sim senhora. Contas pagas, tabaco no bolso, gasóleo no carro, e comida na mesa. E... amanhã? Não há pior do que não dar descanso à alma. Preciso de conforto. O conforto que só a estabilidade de uma esperança nos dá. Complicado? Nah... complicado é não ter um sorriso que nos leve lá. E eu tenho um companheiro à altura. Sei que do que depende dele tudo correrá bem. E no que depende de mim? Ai, que até me tremem as pernas! Sinto a desilusão em cada esquina. Sentimentos de insatisfação em casa sala. E no entanto, sou só eu que lá estou, na sala. Esquizofrenia? Não! Só a alma a falar connosco. Queria muito voltar a ter tudo na mão, só para dizer que não mudaria nada. Sei que as escolhas foram erradas, algumas. Sobretudo aquelas que não são tomadas por nós mas para nós. Hoje tudo seria diferente. Ou talvez não. Mas que interessa isso. Saudosismos que me assolam, daí o blog. A quem dizer que se tem saudades? A tal palavra portuguesa sem igual. Tenho muitas. Mas isso não muda nada. A vida é uma luta, constante, dificil, muitas vezes nada gratificante. E aqui estamos novamente. Só quero que o dia acabe, para ir para o ninho. Para ser livre. Nada me satisfaz. Acho que continuo à deriva. Gosto de alcançar metas, concretas, fixas. Demora tudo muito tempo... O Homem é parvo. Quando pode descansar arranja lenha para se queimar. Eu sou assim. Gostava de ir para longe. De experimentar ir para longe. Depois logo se via. O amanhã. Mas as minhas raízes e a minha necessidade de estar perto de todos não me deixa. Talvez mais tarde. Sim, definitivamente mais tarde. Ainda não tenho a capacidade de ir. Talvez mais tarde.

2 comentários:

Bernardo Santa Clara Gomes disse...

Fogo. Nem sei que te diga.
Impressionante como 2 entes com uma decada entre gerações, que cresceram em mundos completamente diferentes, mas com "merdas iguais", pensam da mesma maneira.
Olha, acredito em ti. E acredito em mim porque sei que acreditas em mim!
Obrigado por existires e seres quem és! E ainda mais por me deixares entrar no teu mundo.
Adoro-te! Beijo!

Anónimo disse...

Fiquei com a respiração acelerada à medida que ia lendo este post... Curioso como o porvir, sendo apenas uma promessa, já mói tanto! Deve ser do peso da esperança - ou da ausência dela?
Cumprimentos e, como diz o outro, muita tranquilidade!
ALM